3 de junho de 2011

Conto - Cartas para Lúcia

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É uma tarde de outono naquele pequeno vilarejo nos arredores de Londres. As folhas caem das árvores e pousam suavemente nos pés de Lucia. A garota olha ao redor, confusa, ainda sem entender quem lhe dera aquele pequeno bilhete que achou na varanda de sua pequena casa.

O bilhete dizia, em belas letras: "Me perdoe". E isso a deixou confusa: a quem deveria perdoar? Na verdade ela sequer conseguia raciocinar direito. Seus pensamentos estavam longe, em uma pequena cama no quarto de um hospital.

"Eu ficarei bem, meu amor.", Pedro disse, enquanto era levado ao centro médico, "daqui a pouco seu namorado está novinho em folha"

Novo em folha.. bom trocadilho para um começo de outono. Mas não preciso me preocupar, todo mundo pega uma doença nesta época do ano. - ela pensa, pouco satisfeita com aquela situação.

De repente ela se desfaz de seus devaneios, pois o carteiro se aproxima de sua casa.

-Alguma carta para mim hoje, Bob?
-Sim, tenho uma! Chegou esta manhã.
-Ok, obrigada.

Após o carteiro fazer a curva, ela olha para a carta. estranho, não tem remetente. E, abrindo, encontra apenas uma frase: "Desculpe-me se algo aconteceu comigo, mas eu nunca vou deixar nada acontecer com você".

Haha, o Pedro só deve estar brincando comigo. Eu o amo mas às vezes ele é tão estúpido ¬¬ De qualquer forma vou ligar pra mãe dele, ela deve saber mais que eu.

Subiu a escada, atravessando uma brisa repentina que entrava pela janela. Mas quando chegou ao patamar do andar de cima, foi atingida por tamanha premonição de horror e desgraça que parou - como que congelada - e ficou olhando em volta espantada, sem compreender as emoções que tomavam conta dela. Segurou o bilhete com tanta força que quase o rasgou, seus braços e costas totalmente arrepiados.

O que está havendo? ela se pergunta, confusa e assustada, as mãos gélidas. Que diabo é isso? Fantasmas? Ai não, isso não. Não agora.

Com uma força de vontade indescritível ela consegue se descongelar de seu repentino lapso surreal, e entra no quarto, pegando logo o telefone na escrivaninha.

- Alô! Sra. Marta?
- Oi, Lúcia, sou eu.
- Hum. Bem, eu só queria saber se Pedro está melhor.
- Oh querida, você não foi avisada?
- Do que?
(em lágrimas) - Nosso Pedro morreu, querida.
- Hã? O quê?  Ah, não ... Não, não pode ser real.
- Também queria que não fosse real.. Mas é. Foi ontem à noite. Nem os médicos compreenderam o que lhe aconteceu.
- Ah, mas.. mas.. então e as cartas.. ah, caralh...
-O quê?

Lucia deixa cair o telefone, porque as suas mãos tremem demais. Atordoada, ela se joga na cama, absorvendo a fraca luz do luar que adentra na janela. Uma luz fraca, mas estupidamente real.
E um pequeno bilhete entra suavemente pela janela, parecendo vir do escuro da noite. Com um forte senso de desorientação, ela pega o papel, lê, absorvendo cada letra e, apesar da dor e medo, ela se sente melhor. Agora compreende. Pois no bilhete estava escrito, em letras muito belas: "O amor pode sobreviver à morte".

Joseane Pereira
ou anne

Um comentário:

  1. Realmente, você tem o dom Joseane.
    Escreve muito bem, e estou doido pra ver seus próximos contos!

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